domingo, 17 de janeiro de 2010

A Federação como Barriga de Aluguel

No último post reportei atos e atitudes que, no linguajar enxadrístico, significam lances que exclamaram no ano que findou. Retomo o tema, aqui, pelo outro lado da moeda, qual seja, lances que deveras interrogaram ao longo de 2009 e que, infelizmente, projetam seus efeitos para este ano de 2010.

O SISTEMA DO VICE-PRESIDENCIALISMO

Na Federação Paulista de Xadrez, entidade em cuja direção já se distinguiram nomes do porte inatacável de um Lourenço João Cordioli, por exemplo, - hoje nonagenário e ainda exibindo competência por tabuleiros do Brasil e, em especial, da GXBG, - na Federação, repito eu, vigora desde muito anos um sistema de governo ou de gestão, do qual não há sequer menção em compêndios da ciência da administração. Ou mesmo da ciência política. É o sistema do vice-presidencialismo.

Como explicação didática funciona assim: nas eleições estatutárias para renovação da diretoria -precavidamente manipuladas com o beneplático da legislação esportiva vigente, - o cabeça de chapa da situação, adrede indicado, se presta a assumir o papel de dublê de presidente, uma espécie tupininquim de 'monarca inglês', mas sem o privilégio da vitaliciedade.

Uma vez eleito - e não há precedente no sistema de que tal não ocorra, - ao longo do mandado, essa personagem até consegue teatralizar fumaças de alguma luz própria, como nas bissextas 'Palavras do Presidente', mas sempre como ventríloquo do mandante de fato, o ocupante da vice-presidência, o inamovível, o permanente.

A mais recente edição dessa encenação federativa ocorreu em fins de 2009. Movida a interesses cuja natureza não cabe aqui o papel de elucidar, mas com a convicção de que nada acrescenta de proveitoso ao currículo das personagens, a nova comédia federativa entra em cena em 2010.

E sem nenhuma expectativa - como dantes - de que possa significar algo de positivo e confiável à atividade-fim da entidade.

A FEDERAÇÃO COMO BARRIGA DE ALUGUEL

Há exatamente um ano, em janeiro de 2009, no post 'A arte de estar por cima da carne-seca', tratei da figura pitoresca da 'Cicinha da Baixada' e, principalmente, de como a 'veneranda' ficou eufórica com a assinatura do convênio federal com a FPX no valor de quase seis milhões de reais. A finalidade era implantar projetos do Programa Segundo Tempo na cidade de Americana.

Esse programa - em explicação simplificada - deveria funcionar assim: o estudante carente, fora do horário escolar, praticaria esportes e não ficaria nas ruas sujeito a situações de risco. Sempre foi o carro-chefe do PC do B, já desde o governo FHC. Mas, como já dizia o poeta, enorme é a distância entre a intenção e o gesto, notadamente em política e no envolvimento de recursos públicos.

Aquele convênio com a FPX era um assombro, não somente pelo montante em jogo, mas principalmente pela capacidade duvidosa dos gestores de toda aquela grana.

O transcurso do tempo comprovou que aquele também era um lance de grande interrogação no ambiente enxadrístico. Representou uma das maneiras como a picaretagem do 'Programa Segundo Tempo' espalha seus tentáculos no estado de São Paulo.

Menina dos olhos do ministro-tapioca Orlando Silva Jr., - o paladino do famigerado Pan-Rio, - esse programa 'é uma engenhoca que está dando muito trabalho ao TCU, ao Ministério Público e à Polícia de Repressão e Combate ao Crime Organizado" (blog do José Cruz).


Nesse esquema viciado tem de tudo como o diabo gosta: desvio de dinheiro para ONGs ligadas ao partido do ministro, matrículas de alunos-fantasmas, servidores - a quem cumpre o dever de fiscalizar - em conluio com os fiscalizados.

Ainda no caso da FPX, acrescente-se o ingrediente inusitado: a suspeita utilização da federação como barriga de aluguel para o recebimento dos recursos federais. "Suspeita, pela forma como o Ministério do Esporte repassa os recursos, através da Federação (Paulista) de Xadrez, e não pela Prefeitura conveniada."

A entidade, - que já se distingue negativamente das congêneres nacionais pelo vice-presidencialismo vitalício como sistema de direção, e que tem como finalidade única o apoio e o incentivo ao enxadrismo, - agora se presta a coordenar atividades tão díspares e estranhas aos seus estatutos como futebol, vôlei, atletismo e - até(?) - xadrez.

O silêncio e/ou inação e/ou cumplicidade dos membros conselheiros e das entidades afiliadas são lances que também interrogam no imbróglio político-policial do xadrez paulista.

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