sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Chamem os paraolímpicos!

Aconteceu durante quatro dias, de 29 de agosto a 1.o de setembro últimos: em Brasília o Comitê Paraolímpico Brasileiro promoveu interessante curso de imersão sobre licitação, convênios e prestação de contas. O público-alvo foram associações e confederações ligadas ao desporto paraolímpico, e que lidam com recursos públicos. Compareceram 37 entidades para o evento, cujos dirigentes se aprimoraram no uso regular e transparente dos tais recursos para evitar serem surpreendidas pelos órgãos fiscalizadores.
Se a iniciativa do CPB por si só configura um feito inusitado, tal a atmosfera de nebulosidade que envolve a relação desporto-verba pública, a adesão espontânea de trinta e sete(!) associações é ainda mais surpreendente.
Ousaria eu até imaginar a iniciativa do CPB servindo de inspiração e estímulo a mandatários de quantas outras entidades desportivas conveniadas em geral, disseminadas por esses 'Brasis' afora. Assim como um efeito multiplicador da prática salutar.
Mas, imaginar tal coisa soa como delírio de um dia de quase primavera, tal a proliferação de "espertos disfarçados de educadores", como bem os define o articulista José Cruz do portal Uol. Esses "trombadinhas profissionais" embolsam o meu, o seu, o nosso dinheirinho (ou dinheirão) sugado, por exemplo, do Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte.
Aliás, a respeito deste malfadado Programa, olhe-se para que lado for, e estará bem à vista de quem quiser ver, o funesto festival de associações, ONGs, federações e que tais, contratadas para implantar cada qual até dezenas de núcleos de esporte educacional, mas cujas estruturas físicas se resumem a uma saleta de poucos metros quadrados, muitas vezes a dezenas de quilômetros distante do objeto do convênio.
Tenho testemunho idôneo da situação de abandono de um desses núcleos numa importante cidade do interior paulista. Dos milhões de reais despejados dos cofres federais nas burras da conveniada, fica evidente que ali respingam apenas alguns caraminguás, a título de pro-labore, no bolso da desamparada serviçal "tomadora de conta" do espaço sem atividades, a tomadora de conta que os documentos oficiais nos engabelam chamando de "monitora".
Ao final de tudo, o balanço da prestação de contas, na contramão dos ensinamentos daquele curso do CPB, apenas cumprirá burocraticamente a legislação, mais ocultando que revelando, e assim estamos quites. Isto, até que um improvável "pente fino" dos õrgãos fiscalizadores aponte o dedo para a ferida, chame o Ministério Público e a polícia.
Mas para a turma da quadrilha as grandes benesses sempre valerão os pequenos riscos...
Agora mesmo a página on-line do Programa anuncia que nesta última terça, dia 1.o de setembro, iniciou-se mais um processo seletivo das entidades que se cadastraram para novo período de contratos.
Infelizmente, trata-se de um procedimento que, pelos antecedentes de desleixo ou omissão ou ainda má fé no trato com a coisa pública, não está apto a separar o joio do trigo. E assim deveremos ter por aí em breve uma renovada leva de "espertos disfarçados de educadores, os trombadinhas profissionais".

EN PASSANT
Há poucos dias uma trupe federativa desembarcou em Itapetininga, no interior de São Paulo, para assinatura de convênio visando à capacitação de professores da rede municipal para aulas de xadrez. Profissionais da captação da imagem registraram a encenação: clima de descontração a fazer aflorar o espírito cívico dos atores protagonistas, coadjuvantes e figurantes úteis. Acrescente-se o texto-baboseira protocolar nesse tipo de evento. Mas o que interessa mesmo ao munícipe contribuinte itapetininguense - cético - é o desenrolar e o final do enredo, que vai acontecer fora dos holofotes e atenções iniciais. Mesmo porque ninguém ali vai querer chamar ou aprender com os paraolímpicos.


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