sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A arte de estar por cima da carne seca

A saudosa Velhinha de Taubaté, vale relembrar, morreu em 2005, após o escândalo político do Mensalão. O seu obituário foi amplamente noticiado à época.

Conheço uma outra senhora, também interessante, também entrada em anos: a Cicinha da Baixada. Dizem as más línguas que ambas foram comadres, mas penso não ser verdade. Pois enquanto a de Taubaté primava pela fé cega nas coisas, a da Baixada é calculista. Basta dizer que, leitora voraz, seu livro de cabeceira é "Você é o Máximo - a História do Puxa-saquismo", do americano Richard Stengel.

Abro aqui um parêntese para explicar que a palavra puxa-saco vem de uma gíria militar. Os oficiais em viagem não colocavam as roupas em malas, mas em sacos. Os soldados, então, carregavam para todos os lados as bagagens de seus superiores, com a maior humildade e obediência. Daí puxa-saco passar a significar bajulador, aquele que corteja com subserviência, foi um pulo. Em 1946 um samba carnavalesco carioca consagrou de vez o puxa-saquismo como certa filosofia de vida. Esta parte da letra todo mundo conhece: "O cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais..."

Esta qualificação cai bem na descrição que faço do caráter da Cicinha da Baixada. Mas em que pese isto, ela não deixa de ser uma simpática senhora, não por acaso também enxadrista. Embora a esse respeito ela se considere hoje uma capivara treineira, não esconde que já teve seus momentos de jogadora-prodígio quando menina. Atualmente, seu xadrez como prática está mais restrito a eventos locais.

De qualquer maneira, nunca se desligou da modalidade, e acompanha o dia-a-dia dos tabuleiros pela internet. Fez um curso no Senac e manuseia muito bem o computador, mesmo sendo ela de uma geração pré-informática. Diz que fica às vezes na internet uma manhã inteira, conferindo as páginas enxadrísticas.

Em abono da veneranda senhora, quem a conhece bem, sabe que seu espírito de bajulação compulsiva não visa necessariamente a vantagens pessoais. É mais fruto daquela propensão inata que acomete certa pessoas de terem horror a serem do contra em suas relações pessoais ou profissionais. É o espírito de manada que tem ojeriza a controvérsias.

O importante é sempre estar de bem, ou mesmo ao lado de quem estar por cima da carne seca. E se a adulação, por ventura, render benefícios, ela não se faz de rogada, aproveita o útil ao mesmo tempo que usufrui o agradável.

A Cicinha sabe que este escriba, quando o assunto é o ambiente enxadrístico, não reza exatamente pela mesma cartilha dos dirigentes de plantão na federação paulista, e por isso mesmo, quando batemos papo pelo MSN ela gosta de me espicaçar dizendo que é "fanzoca número um do Zezão de Americana". Afirma ficar "extasiada com sua verve fácil, capaz de arrumar patrocínio oficial para festival de xadrez até nas dunas de Marte. E depois prestar contas tim-tim por tim-tim, até com recibo dos marcianos".

Bem a propósito, faz da página on line da federação paulista a página inicial de seu navegador. Considera o sítio da CBX "muito chato, só comunicados, contas e contas. Já chegam as minhas. Quem sabe o Pablyto possa dar um jeito nisso..."

Pois não é que ultimamente a Cicinha da Baixada anda eufórica como nunca? Manda-me uma mensagem gentilmente provocadora só para mostrar a este escriba ranzinza quem é que agora estar de fato por cima da carne seca: nada menos que a FPX do seu Zezão, o Máximo. A entidade acaba de assinar com o Ministério do Esporte um novo convênio para implantar neste estado setenta núcleos dentro do Programa Segundo Tempo.

Esta nova bolada financeira para fins supostamente sociais atinge as alturas, em números redondos, de R$ 5.600.000,00.

Esta profusão de zeros não é erro de digitação: são realmente cinco milhões e seiscentos mil reais em verbas dos cofres federais para as burras federativas.

A veneranda senhora "está se achando" com a notícia, pois sabe que o Zezo pode contar com ela para dar uma mãozinha como monitora ou coisa que o valha. Ela sabe também o quanto é importante nessas horas estar ao lado de quem estar por cima.

E antes de encerrar nosso batepapo, ela me exibe o seu troféu puxa-saquista: a cópia do extrato do convênio assinado e datado sugestivamente de 31 de dezembro de 2008.

A Cicinha desliga então o MSN e, com certeza, vai se debruçar em mais uma releitura de sua surrada edição de "Você é o Máximo"!

E fica comigo a transcrição de dar calafrios em quem tenha algum zelo com o meu, o seu, o nosso escasso dinheirinho:

Nº 13, terça-feira, 20 de janeiro de 2009 – Diário Oficial da União – Seção 3
CONVÊNIO Nº 702359/2008
ESPÉCIE: Convênio que celebram entre si a União, por intermédio do Ministério do Esporte e a Federação Paulista de Xadrez.
OBJETO: Constitui objeto do presente Convênio a implantação de 70 núcleos de esporte educacional do Programa Segundo Tempo, para atendimento a crianças, adolescentes e jovens, por meio do desenvolvimento de práticas esportivas educacionais, no/em 01(um) município do Estado de São Paulo
.
DESPESA: Os recursos decorrentes do presente Convênio são provenientes
do Ministério do Esporte, Orçamento Geral da União, no valor de R$ 4.755.450,00 no Programa de Trabalho 27.812.8028.4377.0001, Natureza de Despesa 33.50.e Fonte de Recursos 100, e R$ 798.640,00, referente à contrapartida financeira e R$ 57.600,00 referente à contrapartida em bens e serviços perfazendo o valor total de R$ 5.611.690,00.
NOTA DE EMPENHO: 2008NE901041 de 30 de dezembro de 2008, UG/Gestão: 180002/00001.
VIGÊNCIA: Convênio vigerá pelo período de 24 meses, a partir da data de sua assinatura, para a execução do objeto expresso no Plano de Trabalho.
DATA DA ASSINATURA: 31 dezembro de 2008.
SIGNATÁRIOSs: WADSON NATHANIEL RIBEIRO, Secretário Executivo,, JULIO CESAR MONZU FILGUEIRA, Secretário Nacional de Esporte Educacional - e HORACIO PROL MEDEIROS, Representante da Federação Paulista de Xadrez. PROCESSO Nº: 58701.001963/2008-79.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A efeméride do grande mestre

Há exatos 57 anos, neste dia 23 de janeiro, surgia para o mundo na sul-riograndense Santa Cruz aquele que integraria o seleto grupo dos nossos foras-de-série, aqueles que por geração espontânea conseguem romper a barreira da monocultura desportiva nacional (Maria Ester Bueno, Éder Jofre, Emerson Fitipaldi...)

Refiro-me a Henrique da Costa Mecking, o Mequinho de brasileiríssima alcunha.

No seu currículo ímpar, estão dois títulos Interzonais, o primeiro no Brasil, aos 21 anos, o segundo nas Filipinas, aos 25; campeão sul-americano aos 14 anos; campeão nacional aos 13 e 15 anos, chegando a terceiro do mundo no ranking da Fide, somente superado na época por Anatoly Karpov e Victor Korchnoi.

Mequinho tornou-se aos 19 anos o nosso mais jovem grande mestre internacional de xadrez ao empatar com o romemo Victor Cocaltea no 15º movimento em partida válida pela 14ª rodada do torneio de Hastings, na Inglaterra.

De volta ao Brasil, Mequinho foi recebido no aeroporto pela bateria da Mangueira.

E essa conquista do primeiro título de Grande Mestre para o xadrez nacional mereceu cobertura de página inteira do Jornal do Brasil do dia 13 de janeiro de 1970.

Há uma excelente reportagem on line com artigos, crônicas e fotos sobre a vida do Mestre no endereço http://xadrezonline.uol.com.br/biografia.htm.


Como também vale uma visita o videodocumentário de Felipe Nepomuceno, a respeito desse que é o maior jogador de xadrez da história do Brasil. Está no endereço
http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=2853

Merecedor de uma popularidade que extravasou em muito os limites tacanhos do nosso ambiente enxadrístico, vamos encontrá-lo até na música popular, referenciado que foi nos versos da canção "Meus Heróis" do saudoso Raul Seixas:

"Quem é que no Brasil não reconhece o grande trunfo do Xadrez?
"Saí pela tangente disfarçando uma possível estupidez.
"Corri para um cantinho para dali sacar o lance de mansinho…
"Adivinha quem era? Mequinho!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Um alívio para os nossos bolsos e o bom exemplo federativo

O "Pílulas de Reflexão" volta a se hospedar nesta casa, em decorrência de problemas surgidos com atual reestruturação do portal Terra. Os antigos "post", contudo, continuam ali, à disposição de eventual interesse dos internautas.

E o retorno a este espaço é brindado com a notícia que é um alívio para os nossos bolsos de enxadristas.

A recém-eleita diretoria da Confederação Brasileira de Xadrez anuncia a tabela de taxas para este ano novo de 2009. E o anúncio é alvissareiro para a nossa comunidade enxadrística: os valores diminuíram em relação a 2008.

O percentual talvez ainda não seja o ideal, mormente quando se sabe que há regiões do país cujo poder aquisitivo pede uma variação mais acentuada desse viés de baixa.

Quem sabe um esquema de tabelas regionalizadas, atreladas ao índice per-capita de cada estado, pudesse fazer mais justiça.

De qualquer maneira, os passos iniciais da administração são positivos. Os valores apresentados para 2009 são os que se seguem:

  • Anuidade de jogador Sub-18: R$ 20,00 (redução de cinco reais);

  • Anuidade de jogador adulto: R$ 40,00 (redução de dez reais)

  • Anuidade de jogador com rating FIDE: R$ 70,00 (redução de dez reais);

  • Anuidade de árbitro ou instrutor: R$ 80,00 (permanece o mesmo valor).

  • A taxa de R$ 3,00 , cobrada por jogador a título de cálculo de rating foi excluída e a partir deste ano será cobrada uma taxa única a título de Taxa de Registro/ Oficialização CBX no valor de R$ 80,00.

Os dados acima foram extraídos da página on line da Federação Cearense de Xadrez (que exibe também um blog), entidade das mais atuantes e criativas dentro do cenário federativo atual.

E quando se sabe que num passado não muito distante esta federação estava à míngua, com a então diretoria em debandada, como a sugerir que o último a sair que apagasse a luz, a realidade atual traduz um perfeito exemplo de superação.

Esses cearenses valem a visita dos internautas em geral.

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