O ÓBVIO ULULANTE - 1
O genial Nélson Rodrigues, entre tantas expressões que marcaram sua literatura, tinha uma que sempre estava presente em suas crônicas: o "óbvio ululante", aquela evidência que salta aos olhos de cada um, impossibilitando a sua não-percepção. Nélson gostava de provocar o amigo e contista mineiro Otto Lara Rezende. Em uma de suas provocações, Nélson atribuiu a Otto a descoberta do "óbvio ululante". Escreveu certa vez que Otto passava todos os dias pela enseada de Botafogo a caminho do trabalho. Anos e anos depois de repetir o mesmo trajeto, deparou-se com a beleza e a imponência do Pão de Açucar. Aquela montanha lá estava, impávido colosso e ele, por incrível que pareça, jamais a havia notado! Parou o carro, desceu e ficou a admirá-la por cerca de meia hora, extasiado. Era o óbvio ululante, finalmente percebido!
O ÓBVIO ULULANTE - 2
Lembrei desse episódio ao correr os olhos na página da FPX nestes últimos dias. A entidade descobriu o óbvio ululante: existe vida enxadrística fora da federação! Noticiou o torneio da cidade paulista de Registro (gigantesco como o Pão de Açúcar), que distribuiu vinte mil reais em prêmios. Esta é uma quantia que a entidade maior do xadrez paulista poderia fazer com conforto a cada conveniente convênio assinado. Anunciou também o Internacional do Espírito Santo, a 4 dias de seu início, e anuncia o próximo Aberto do Brasil, em Varginha, na segunda quinzena deste mês. Ouso adivinhar com que má-vontade (ou com que terceiras intenções) a atitude foi tomada.
ÓBVIO ULULANTE - 3
Lá no alto da mesma página, com o foguetório peculiar, leio o anúncio daquela profilaxia financeira denominada Copa Ayrton Senna, e mais abaixo, a desfaçatez da distribuição de pouco menos de R$6.000,00 dos cerca de R$60.000,00 abocanhados nos cofres públicos para o Festival Santista, dando a entender que os outros R$54.000,00 irão para os torneios proveitosamente fechados, que dividem com os "cursos de capacitação" e os "escolares" o trio de obsessões 'rodrigueanas' da entidade da Barra Funda.